terça-feira, 24 de agosto de 2010

Ma Che Bella Giornata - Parte 2

Depois de resolvido o problema da luz, decidi tomar uma atitude e comprar as minhas passagens para dar uma viajada em setembro. Uns dias antes eu tinha visto umas passagens pele Ryanair por 5 euros o trecho. Me interessei por uma de Turim à Madri, no dia 7 de setembro e uma outra de Madri para Paris, no entanto só tinha 4 lugares em cada uma por este preço. A Surya disse que não era pra se preocupar com isso, então não me atucanei, mas quando fui ver no dia seguinte as duas já tinham acabado. Muito bem guria! Porém havia uma pelo mesmo preço alguns dias depois e, da mesma forma, haviam poucos lugares. Bom, resolvi me agilizar. As companhias aéreas aqui na Europa cobram uma taxa por uso de cartão de crédito um pouco alta, ao redor de 15 euros , então eu iria pagar 3 vezes o valor do meu vôo só em taxas. Só que o Ricardo, brasileiro que eu conheci aqui, tem o único cartão que a Ryanair aceita sem cobrar nada além do valor do vôo, mas esse cartão é pré-pago e ele não tinha nada de crédito. Liguei pra ele e falei que iria na casa dele com os meus 10 euros pra nós sairmos atrás de um banco pra carregar. Peguei a minha bike e fui. A casa dele é uns 3 km da minha, então pensei que seria rápido, inclusive disse pra Surya me esperar pro almoço, já que eu não deveria demorar mais do que meia hora.



O problema é que sábado na Itália é complicado achar um banco. Mesmo os caixas eletrônicos ficam com algumas operações limitadas. Tava bem quente, muito sol e saímos atrás do primeiro banco, o que o Ricardo sempre fazia esse tipo de operação. Chegamos lá, ficamos uns 20 minutos, mas não conseguimos. Resolvemos ir no shopping aqui de Turim, pois lá deveria ter. Mais uma meia hora e não deu também. Resolvemos caminhar até um que era um pouco mais longe, mas que com certeza teria. Caminhamos uns 30 minutos, chegamos lá, mas a máquina estava fora de operação. Aquele sol tava rachando, a fome batendo e nada de conseguir o troço. O pior é que a passagem de Madri pra Paris só tinha mais um acento na última vez que eu tinha visto. Depois dessa última tentativa frustrada, voltamos pra casa dele para olhar na internet onde mais tinha esses caixas. Achamos um bem perto da minha casa, mas antes de sair demos mais uma conferida se a passagem ainda estava lá. Sim, estava. Combinamos de nos encontrar na frente do banco. Ele ia de bus e eu de bike. Dei uma gás na bike e cheguei antes que ele. Turim é muito bom pra isso!


Esperamos uma pessoa sair e ele foi fazer a operação. Finalmente deu certo. Fomos na minha casa para comprar de uma vez por todas. Começamos pelo segundo trecho (Madri – Paris), pois esse só tinha um. Fiz todo o cadastro, preenchi tudo, botei pra comprar e beleza! Opa, erro na compra: foi encontrada duas reservas para o mesmo vôo e ocorreu um problema. Tente novamente daqui a 60 minutos. Alguém deve ter comprado na mesma hora e, por minutos ou segundos, eu perdi o vôo. É foda! Bom, comprei de Turim pra Madri e o outro trecho deixei pra outra hora. Ainda tinha passagem por 20 euros, o que não é nada absurdo.


Eu estava procurando um apartamento aqui em Turim, pois o nosso está alugado só até o fim de agosto, depois entra outro inquilino. Fiz várias buscas, mas não achei nada interessante pro meu bolso. Os que estavam dentro do orçamento eram muito afastados ou tinha que dividir o quarto com mais um. Isso eu não quero, pois devido a minha rotina estar vinculada ao horário brasileiro, não posso dividir um quarto e ficar até as 4:00 da manhã na internet. Por isso, resolvi viajar em setembro, procurando, na medida do possível, ficar hospedado na casa de conhecidos e economizar nas diárias. Acredito que conseguindo isso, não vou gastar tanto a mais e ainda vou conhecer novos lugares. Magari!

Ma Che Bella Giornata - Parte 1

Voltando às atividades de escritor, vou falar um pouco do meu dia de sábado aqui em Turim, que foi bem movimentado. Pra começar, eu devo dizer que na sexta-feira a gente tinha ido na casa do Ricardo, um colorado que conhecemos aqui. Comprei 8 Stella Artois de 660 ml, a 1 euro cada uma e fomos confraternizar com ele e mais um colega venezuelano. Bebemos bastante e demos uma volta na cidade depois, mas por causa das férias não tinha quase ninguém nas ruas. Voltei pra casa umas 4:00, fiz um hamburger e quando fui escovar os dentes pra dormir, fui ligar a luz do banheiro e powwww. Um estouro! Tomei um cagaço, escovei os dentes no escuro e fui dormir. Tirei tudo das tomadas, mas não quis fazer nada naquela hora.



Acordei umas 11:00 do dia 21 de agosto. Um dia muito especial, pois completava 6 anos da primeira vez que eu a Fran ficamos. Um dia de celebração. Bom, a primeira coisa que fiz quando acordei foi dar uma olhada no interruptor da luz. Ele tinha caído no dia anterior. Botei pra posição normal dele e fui testar as luzes. Nada. Testei as tomadas e nada. Ué! Pensei um pouco, liguei o notebook para dar uma pesquisada, mas não encontrei nada de relevante. Resolvi ir na vizinha pra ver se, por acaso, ela não estaria sem luz também. A vizinha do lado é uma velha de uns 70 anos eu acho. Toquei na campainha, ela perguntou de dentro quem era. Eu disse que era o vizinho do lado e ela abriu a porta. Logo me chamou pra entrar e não parava de falar. Nisso eu já vi que a luz da casa dela estava acesa. Antes de perguntar meu nome ou coisa assim, já me deu umas cortinas e pediu para eu pendurar pra ela. Subi na escada e amarrei, levei a escada de volta. Ela falava muito rápido, eu não entendia nada e mal conseguia falar também. Ela percebeu que eu não estava entendendo e disse várias vezes: a tua irmã fala bem italiano, ela me entende. Parecia meio braba já. Bom, depois de trabalhar, disse pra ela que estava sem luz no meu apartamento, expliquei como foi. Ela me disse que eu deveria falar com a zeladora, mas antes me fez um café e ficamos conversando por uns 20 minutos. Me perguntou até quando eu ficaria, o que fazia ali e mais um monte de coisas. Me despedi e voltei pra função da luz.


Desci na zeladora, uma mulher bem antipática, toquei na campainha e expliquei a situação. Ela subiu comigo até o nosso apartamento que é no 4º andar, olhamos a chave da luz, ela viu, mas disse que não sabia o que era. Descemos no porão do apartamento, onde fica a chave geral. Todas estavam na posição correta, então não tinha nada de errado. Ela disse que ia ver o que fazer e eu fiquei de tocar na casa dela uns 20 minutos depois. Voltei por ap e fiz mais testes, mas sem nem saber o que estava fazendo. Nada deu certo e toquei lá na mulher de novo. Ela disse que não tinha o que fazer e que eu deveria ligar para a companhia elétrica, pois deveria ser um problema de pagamento. Perguntei se ela sabia qual era a companhia e ela me disse que cada apartamento faz um contrato com uma determinada Cia. Pode ser a mesma ou não, mas que eu deveria procurar uma fatura. Disse pra ela que eu não tinha. Novamente ela disse que não podia fazer nada. Enquanto isso a geladeira descongelava. Fui de novo naquele porão, bem escuro por sinal. Sinistro! Não encontrei nada de importante, mas vi que tinha umas 15 portas, todas numeradas. Contei o número de apartamentos e concluí que era uma pra cada apartamento. Achei que ali poderia ter um interruptor geral e que pudesse ter caído também.


Cheguei em casa e liguei pra minha prima, a proprietária do cafofo. Ela não atendeu, então mandei e-mail e recado no orkut. Resolvi ligar pro Giuseppe para saber se ele poderia me dar uma “luz”. Ele me “esclareceu” que existia sim outro interruptor geral, que ficava “sotto”, que em italiano significa embaixo. Com certeza seria uma daquelas portas, mas e a chave, onde estaria? Tinha um molho de chave com umas 30 diferentes e 15 portas fechadas. Ia passar o dia inteiro tentando achar a maldita. Achei um chaveiro que tinha, além das chaves do apartamento, mais duas pequenas. Achei que poderia se uma delas. Pensei que a zeladora pudesse saber. Lá fui eu tocar de novo na casa dela. Atendeu com aquela cara de cú e eu falei das duas chaves extras. Ela perguntou de novo da fatura e eu disse, novamente, que eu não havia encontrado nenhuma. Ela pegou uma das chaves e, bem debochadamente, me disse que essa chave era da porta grande e me mostrou, abriu a porta, fechou, mexeu de um lado pro outro. Eu não estava nem aí pra aquilo. Pra mim era só dizer que não era e pronto. Vi que ela estava me provocando. Fiquei irritado, mas continuei firme. Ela disse que não sabia como me ajudar e perguntou se eu já havia ligado pra número da fatura da conta. Nisso eu perdi a paciência e no meu bom italiano falei bem alto: MA IO NON HO TROVATTO IL BOLETTO (eu não encontrei a fatura). Ela baixou a bola e disse que tinha entendido. Bom, desisti dela e fiquei aguardando a minha prima me ligar. O problema é que já fazia umas 7 horas que estávamos sem luz e a geladeira estava descongelando. Resolvi bater na campainha dos vizinhos um por um. Quase ninguém em casa, mas num deles eu vi que tinha barulho e toquei. Me desculpei por incomodar, expliquei a situação, disse que a comida estava descongelando e um cara se prontificou para ajudar. Disse que a solução deveria estar naquelas portas do porão, mas pediu para olharmos antes aqui no apartamento. Olhou o interruptor que eu havia mexido e mais abaixo, atrás de uma portinha preta, havia outro que estava pra baixo. Botei pra cima e plim, ligou tudo. Esse interruptor, o cara me explicou, é chamado de salva-vidas e deve ser desligado quando for fazer mexer em alguma tomada para cortar a corrente. Agradeci o cara e beleza. Resolvido o problema. Liguei a geladeira de novo e tudo certo.

sábado, 7 de agosto de 2010

Maledetta Declaração de Presença

O primeiro dia em Turim foi um dia de resolver questões burocráticas em relação a cidadania italiana. Como o meu vôo fez escala na França, eu recebi o carimbo no passaporte no Aeroporto de Paris e existe na Europa o Acordo Schengen, onde os vôos realizados entre aeroportos desses países (França, Itália, Alemanha, Suiça, Holanda...) são considerados vôos domésticos, portanto não precisei passar por imigração na Itália e, consequentemente, não recebi carimbo na Itália. Que pena!



Bom, pelo fato de eu não ter o carimbo da imigração italiana, eu preciso de uma declaração de presença na Itália, para eu poder solicitar a residência em Turim. O tempo máximo para fazer essa declaração são oito dias após a entrada no país. O mais demorado no processo de cidadania italiana é a comprovação da residência, leva de 60 a 90 dias para sair. É preciso solicitar, aguardar o fiscal comprovar que você realmente vive no endereço declarado e depois aguardar mais. Por isso queríamos o mais rápido possível solicitar a residência, até porque em Agosto tudo fica mais lento na Itália, por ser o mês de férias aqui. Para se ter uma idéia, quase todas as lojas ficam fechadas por uns 15 dias ou mais.


A Surya não precisava dessa declaração de presença, pois o vôo dela foi direto de São Paulo à Milão, então o carimbo da imigração italiana é suficiente para solicitar a residência. Saímos para resolver o meu problema. Como o nosso apartamento é bem no centro, fizemos tudo a pé. Eu sabia que tinha que ir na Questura da cidade, tipo a polícia. Primeiro fui na Prefeitura perguntar e me disseram que eu deveria ir no ufficio lìmigrazione que era a umas 7 quadras dali. Ok, fomos. Chegamos lá, quase não tinha ninguém, inclusive para dar uma informação, peguei uma senha e ficamos aguardando. Passados uns 5 minutos sem ninguém ser chamado, saiu uma mulher de uma sala, que parecia funcionária daquele ufficio. Fui perguntar, com toda educação, se eu estava no lugar certo, mostrei o papel que eu deveria apresentar e a mulher já saiu soltando as patas: eu não posso responder tudo que é informação, tem um local apropriado pra isso no andar térreo, você deve perguntar lá. Respondi, mentindo, que já havia estado lá embaixo e que me mandaram ali pra cima, pedi pra ela olhar meu papel e ela deu uma olhadinha e fez uma cara de quem não sabia do que se tratava. Fui embora, pois ali realmente não parecia ser o local correto.


Voltamos caminhando pra Prefeitura e saí perguntando, tiramos uma senha num atendimento e a Surya conseguiu perguntar aonde era o local correto. Deveríamos ir na Questura principal, que deveria ser a umas 5 quadras dali. Aquela altura, sol na cabeça, já estava cansado de tanto caminhar, mas lá fomos nós. Chegamos no prédio da Questura, íamos entrando quando um oficial nos parou e perguntou, educadamente, o que queríamos ali. Respondi que eu vim do Brasil, mas parei na França, etc. e ele pediu para ver a minha folhinha. Mostrei e ele disse que eu deveria ir no ufficio lìmigrazione, onde eu havia estado antes. Disse isso a ele, o cara pensou um pouco e pediu que a gente o acompanhasse. Chegamos numa sala, aguardamos um pouco e saiu um funcionário da sala, bem humorado fez algumas perguntas e disse com muita autoridade que nós deveríamos nos dirigir a Via Verona, 4. Como eu não tinha aonde anotar ele escreveu num papel e nos deu. Quando ele disse que eu tinha oito dias para fazer, eu tive a certeza que ele sabia onde era. No entanto, nós teríamos que deixar pro dia seguinte, pois já estaria fechado. Esse tipo de coisa aqui na Itália funciona até às 13:00. No final do dia liguei pro Giuseppe, que é quem está dando a residência pra gente, e disse que deveria ir nesse lugar amanhã e achava que logo depois de eu conseguir essa declaração, nós já poderíamos solicitar a residência. Fiquei de ligar pra ele quando eu já tivesse com a minha declaração. Ele disse para nós irmos cedo nesse lugar da Via Verona, pois tinha sempre muita gente.


Acordamos umas 8:00 e chegamos na Via Verona umas 8:30. Entramos no salão e, meu Deus! Tinha muita gente. Umas três filas enormes e gente de todo o tipo, os mais diferentes idiomas, uma gritaria. Aquilo era uma zona. Tinha uma fila para pegar uma senha, na qual todos deveriam entrar, depois tinha outra para informações e mais uma para entrar nos guichês. Que roubada! Entramos na primeira fila e logo já começou uma discussão entre a funcionária e alguém que, na minha interpretação, estava esperando há muito tempo na fila, sei lá, era uma gritaria. Daqui a pouco a mulher que dava as senhas saiu dali braba, ficou alguns minutos fora e voltou com outro cara para ajudá-la a conter os mais exaltados. Depois de uns 20 minutos pegamos nossa senha, para aguardar a outra fila, agora a das informações. Esse salão era bem precário, cheirava mal, a salinha da informação tinha todos os avisos escritos à mão, todo torto. Tinha várias famílias, crianças pequenas chorando, gente muito feia. Aquele ufficio é onde se faz permissão para trabalhar, e é onde os imigrantes ilegais tentam se tornar imigrantes legais, essa foi a minha visão da coisa.


Aguardamos uma hora e pouco, um tempo em pé, depois sentado. Tinha um guri que ficava trocando senhas com as pessoas. Ele dava uma senha que já tinha passado e pegava uma que ainda demoraria mais tempo. Não consegui entender porque ele fazia aquilo, mas ele entrava e saía da sala de informações, sempre com alguma família. Ele tinha uma cara de árabe, deveria ser marroquino, aqui tem muito. Enfim, entramos na sala, tinha mais uma fila pequena dentro da sala e fomos atendidos. Expliquei a situação e eles sabiam do que se tratava. Ainda bem. Demorou mais uns vinte minutos e, enfim saí com a minha Declaração de Presença. Que vitória! Se eu soubesse que seria daquele jeito, teria mês esforçado mais para pegar um vôo direto. Ainda mais com a confusão que deu nos meus vôos.


Quando saímos de lá, passamos na casa do Giuseppe, apenas para falar que teríamos que deixar para segunda-feira a residência, pois ele teria que trabalhar ao meio-dia e não daria tempo para tudo. Acordamos ele, tomamos um café na sua casa e fomos pra nossa casa.

domingo, 1 de agosto de 2010

Sono Arrivato

A jornada durou 36 horas e finalmente estou em Torino. Desde que me acordei às 7:00 da manhã do dia 26 de julho em Porto Alegre, até entrar na minha nova casa no dia 27, foi uma caminhada e tanto.



Tomei um bom café da manhã com a família inteira em Porto Alegre e logo em seguida fomos para o aeroporto o meu pai, a Fran e eu. Fiz o check-in, despachei a minha mala, meu pai tirou algumas fotos e ficamos aguardando o horário de embarque. O Rafa chegou a tempo de tirar umas fotos, antes de o velho ir embora. Tomamos um chocolate quente no mc`café, conversamos mais um pouco e o Rafa se despediu, com a intenção de me visitar no final do ano. Ficamos só a Fran e eu, o que achei ótimo para termos mais uns momentos a sós para nos despedirmos da maneira como duas pessoas que se amam devem fazê-lo. Foi ótimo.


O primeiro vôo foi tranqüilo, viajei de Gol. Saí no horário marcado, as 10:30 e chegamos no Galeão ao meio-dia e meia. Logo na chegada já fiz o check-in na Air France, peguei minhas passagens e saí para fazer uma das coisas mais chatas que tem, passear pelo aeroporto. Lá almocei uma comidinha bem leve: arroz, feijoada, farofa e bife acebolado, o que mais tarde surtiria efeito. Fui estrear o wireless do meu novo notebook. Apareceram várias redes disponíveis, mas todas pagas. Achei um absurdo ter que pagar R$ 18,00 por 2 horas de internet num aeroporto internacional, mas resolvi pagar já que os meus reais não seriam úteis por um bom tempo, no entanto pensei que era impressionante como tudo no Brasil é cobrado. Tudo é cobrado mesmo, mas não é só no Brasil. Isso eu constataria mais tarde.


Fui pra sala de embarque da Air-France com um friozinho na barriga, afinal seria a minha primeira viagem intercontinental. Eu não estava bem ciente de quanto tempo duraria a viagem, pois nas passagens aparece sempre a hora local de cada país e eu nem me dei o trabalho de fazer a conta, ia ir do mesmo jeito. Logo que eu entrei no avião, recebi os cumprimentos em francês: - Bonjour Monsieur. Respondi da mesma forma. A entrada no avião foi pela frente, então as primeiras poltronas são de primeira classe. Quando eu vi o conforto, pensei rapidamente, que coisa boa, enfim não vou precisar me contorcer todo. Mas logo vi que não era bem assim. Andei mais 10 passos e cheguei na classe econômica. Muita gente, impressionante. Sentei do lado de uma mulher bem magrinha, ou seja, pouco espaçosa. Comecei bem. A Air-france me pareceu boa, os funcionários atenciosos e uma comida bem servida. O espaço é pequeno, mas o meu tamanho geralmente não ajuda. Estava muito quente para mim no vôo e a minha roupa não era das mais confortáveis, então a uma altura da viagem comecei a me sentir mal, suando e tive que ir ao banheiro pelo menos para ficar um pouco em pé e jogar uma água na cara. O problema é que ainda faltavam 6 horas quando aconteceu isso, tinha passado apenas 40% do trecho. Foi brabo. Depois disso consegui dormir umas 2 horas e foi apenas isso de sono. O vôo de Paris atrasou 40 minutos e como a minha conexão para Milão era apenas 1:30 depois do horário de aterrissagem prevista, fiz uma correria para chegar. Saí rapidinho do avião e me mandei pro portão que eu deveria ir. Tudo lá é muito sinalizado, por isso não tive maiores dificuldades. Olhei o horário e faltava muito pouco, então saí correndo, literalmente, pelo aeroporto Charles de Gaulle, até chegar à imigração. A fila estava bem grande, o que me assustou. Cheguei na frente da fila e pedi licença para uma senhora para perguntar para o funcionário se eu não poderia passar na frente. Ele me mostrou a passagem dessa senhora, me dizendo que todo mundo ali estava atrasado. Ok. Tive que voltar para o fim da fila. Vi que tinha outra fila menor, pedi para passar e a mulher, muito asperamente, me deixou. Mostrei meu passaporte, o cara da imigração me olhou, olhou o passaporte e me deixou passar. Quando estava correndo uma funcionária do aeroporto olhou minha passagem e falou algo em francês. Pedi para que ela falasse em inglês, então ela chamou uma colega sua para traduzir. Ela disse para você se apressar, foi o que me disse a outra, ou seja, a moça parou a minha correria para dizer que eu precisava correr para não perder o vôo. Além disso, fiquei surpreso, negativamente, pelo fato de a funcionária não saber falar em inglês. Mais correria e enfim cheguei ao meu portão de embarque. Porta fechada. Me dirigi a um terminal da Air France, falei qual era o meu vôo e a moça disse que eu havia perdido. Pedi para ela deixar, mas não teve jeito. Tive que remarcar o vôo. Isso eram 9:25 da manhã de Paris. O proximo vôo para Mião era às 13:25. Paciência. Pelo menos a Air-France me deu um vale-lanche que eu acabaria usando mais tarde. Quando eu estava remarcando a passagem, a funcionária me disse os horários dos vôos para Milão com chegada no Aeroporto de Linate. Perguntei se a minha passagem não era para o Aeroporto de Malpensa. Ela disse que a Air-France não voava para o Malpensa. %!#&*! Tinha combinado com a Surya, que chegaria um pouco depois de mim em Milão, que eu ficaria esperando-a no desembarque do seu vôo. Só que agora, eu chegaria mais tarde que ela e num aeroporto diferente. E o pior de tudo é que não tínhamos celular habilitado aqui. E agora? Bom, liguei meu computador para passar um e-mail para o pessoal de casa e para a Surya, para mudarmos o nosso plano. A internet em Paris também é paga e é o mesmo preço que no Rio. Aí eu vi que não era só o Brasil. Comprei um ticket de uma hora por 5 euros. Procurei no Google Maps a localização dos dois aeroportos de Milão em relação à estação de trem, de onde partiríamos para Torino. Pude ver que eu estaria bem perto da estação, mas a Surya longe, por isso escrevi no e-mail para nos encontramos diretamente na estação de trem de Milão. Disse que entraria novamente na internet no aeroporto de Milão para ver se já havia alguma resposta ao e-mail.


O vôo para Milão foi bem tranqüilo, tinha pouca gente. Quando estávamos sobrevoando a Italia, já perto de Milao, achei tudo bem bonito, um relevo acidentado, vales, rios. Por outro lado, esse foi o vôo mais nervoso, pois o meu maior medo era de ser deportado, por causa de algum documento que eu não tivesse. Fiz tudo quanto é coisa para me prevenir: seguro saúde internacional, carta da empresa, ultimo contra-cheque, passagem de volta, mas não consegui a carta da pessoa que me hospedaria aqui na Itália, por isso a tensão. Desci do vôo suando frio e para minha surpresa, não houve nenhuma abordagem, até achei que havia alguma coisa errada. Fui buscar a mala que eu havia despachado em Porto Alegre. Despachando a mala em Porto Alegre, perdendo o vôo na França, trocando de companhia. Sinceramente, tinha tudo para essa mala não chegar, mas deu tudo certo, ainda bem. De repente eu me dei conta de que enfim, eu estava na Itália. Não agüentava mais aeroporto, mas ainda tinha mais uma função. Precisava entrar na internet para ver se a Surya tinha respondido. Fui num balcão de informações e para minha surpresa, não tinha internet no aeroporto. Nem wireless, nem lanhouse. Que loucura, num aeroporto internacional. Comecei a sentir a Itália.


O que fazer agora? Resolvi ir para a estação de trem. Peguei um ônibus na frente do aeroporto, paguei 5 euros e desci na frente da estação de trem Milano Centrale. Ali deveria ter internet, já que a estação era imensa. Perguntei no balcão de informações e nada de internet. Talvez tivesse no mc`donalds na frente da estação, foi o que me disseram. Fui pra lá com aquela mala imensa e a mochila pesando 20 kg. No mc`donalds não tinha, mas do lado tinha uma lanhouse. Só que não era wi-fi, então não pude usar o notebook. Entrei no MSN e falei com a Fran. Ela me disse que a Surya não tinha dado notícias. Falei para a ela que, se a Surya entrasse em contato, eu estaria esperando-a em frente à farmácia da estação até umas 17:30, pois o trem para Torino saia as 18:15. Isso já era umas 16:30.


Voltei para a estação e comprei a passagem. Fui para a farmácia e de longe vi uma guria que poderia ser a Surya, fui me aproximando e cada vez mais se parecia com ela. Falava pra mim mesmo: tem que ser, tem que ser. E era. Foi uma felicidade só. Nos demos um abração. Naquela altura eu já tinha quase certeza que teria que ir pra Torino sozinho e me encontrar com ela lá. Depois dali foi tranqüilo. Compramos o ticket dela e nos mandamos para Torino de trem. Bem confortável pros 10 euros. Duas horas de viagem e sono arrivati a Torino. Grazie a Dio.